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Os desafios da sustentabilidade no setor do shipping

O que é exigido aos armadores é não só um enorme desafio, como também um salto no escuro, que, a falhar, poderá pôr em causa a sua própria sobrevivência. Por António Belmar da Costa, diretor-executivo da AGEPOR - Associação dos Agentes de Navegação de Portugal

03 Nov 2025 - 07:20

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António Belmar da Costa, diretor-executivo da AGEPOR

António Belmar da Costa, diretor-executivo da AGEPOR

Os desafios da sustentabilidade no setor do shipping são, no entender de quase todos os especialistas, não só altamente complexos, como implicam fortíssimos investimentos em navios movidos a combustíveis que ainda ninguém sabe, com clareza, quais serão e qual a sua viabilidade futura.

Com efeito, a agenda ambiental que a sociedade construiu propôs metas extremamente ambiciosas, sem levar em devida conta a materialidade possível de as mesmas virem a ser atingidas.

Desde já, tenho defendido e reafirmo que a nossa geração tem obrigação de entregar às futuras gerações um mundo mais limpo. Para mim, essa obrigação é inquestionável e todos temos obrigação de contribuir para esse fim. No entanto, e para credibilizar as ações a tomar nesse sentido, é necessário que esta vontade obedeça, em primeiro lugar, às condicionantes da realidade, dando assim corpo a uma estratégia que todos acreditem e tomem como sua.

Por absurdo seria muito fácil, do ponto de vista operacional, atingir num ápice, diria mesmo que de um dia para o outro, as metas propostas. Para tanto bastava que toda a frota mundial de navios parasse os seus motores e ficasse inamovível. Ora, como todos sabemos e compreendemos, isso não seria possível num mundo onde 80% a 90% das mercadorias transportadas utilizam o mar e os navios como veículo.

Não sendo esse evidentemente o caminho, procurou dar-se tempo à indústria para investir e se preparar para atingir, faseadamente no tempo, as métricas e metas necessárias ao cumprimento dos requisitos ambientais.

Convém aqui abrir um parêntesis para referir que a vida útil de um navio ultrapassa os 30 anos, e o “abate” precoce desse mesmo navio obviamente acaba por gerar um prejuízo que cumulativamente a indústria não consegue suportar.

Por outro lado, e em paralelo, o investimento em novos navios pode variar, consoante se trate de um pequeno cargueiro ou de um grande navio de cruzeiro, entre 10 a 2 biliões de dólares. Um montante extraordinariamente alto para um armador que, para além do valor que vai ter de investir, precisa ainda de o ter preparado para aceitar um, ou mais, tipos de combustível passíveis de utilização nos próximos 20/30 anos. Ora como todos sabemos, esse combustível (ou combinação de combustíveis) ainda não existe, ou até existindo, não em quantidade suficiente para suprir todo o mercado.

Como se vê, o que é exigido aos armadores em termos de metas sustentáveis é, não só um enorme desafio, como também é um salto no escuro que, a falhar, poderá pôr em causa a sua própria sobrevivência futura.

No entanto, os armadores, bem como toda a indústria do shipping, estão a preparar-se para tudo fazerem no sentido de cumprirem ou pelo menos aproximarem-se na linha do tempo das metas impostas. Não vai ser fácil, até porque como referi inicialmente, na minha opinião, as metas são um pouco irrealistas pela ambição que transportam. Alguém vai ter de pagar o enorme investimento necessário em hardware (novos navios e equipamentos), mas também nos custos acrescidos incorridos em toda a cadeia logística. Esse alguém será seguramente o destinatário final dos bens/mercadorias transportadas e há que ter o cuidado de acautelar que a sustentabilidade ambiental caminhe em paralelo com a sustentabilidade económica. Qualquer desequilíbrio para um dos lados porá sempre em causa questões ligadas à sobrevivência futura da generalidade dos seres humanos.

 

 

 

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