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Ação climática: urgência real
Espera-se que a bioeconomia, as “nature-based solutions” e os instrumentos de financiamento florestal construam pontes entre sustentabilidade ambiental e oportunidades de negócio. Por Maria João Simões de Almeida, diretora executiva do GRACE – Empresas Responsáveis.
04 Dez 2025 - 10:32
6 min leitura
Maria João Simões de Almeida, diretora executiva do GRACE – Empresas Responsáveis
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Maria João Simões de Almeida, diretora executiva do GRACE – Empresas Responsáveis
A conclusão da COP30, recentemente celebrada em Belém, representa um momento crítico de reflexão para as empresas portuguesas comprometidas com os princípios ESG (Ambiental, Social e Governance). Para nós, do GRACE – Empresas Responsáveis, os resultados alcançados oferecem tanto oportunidades como alertas: traduzem, simultaneamente, uma chamada à ação mais decidida e um espelho das dificuldades estruturais que muitas organizações enfrentam na sua transição para uma economia de baixo carbono.
A COP30 terminou com avanços importantes, mas também com lacunas significativas. Por um lado, houve um compromisso notável em triplicar os fundos para adaptação climática, o que reforça a dimensão da justiça climática e da solidariedade global. Por outro, a incapacidade de se chegar a acordo de um roteiro claro para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis é profundamente preocupante. Este insucesso reflete as persistentes resistências políticas e económicas que ainda dominam parte do debate climático.
Mas também decorreu nesta COP30 um momento simbólico, mas não menos relevante: a reflexão sobre a natureza como capital económico estratégico. Espera-se que a bioeconomia, as “nature-based solutions” e os instrumentos de financiamento florestal construam pontes entre sustentabilidade ambiental e oportunidades de negócio.
Estas decisões têm implicações concretas para o tecido empresarial português, que já se encontra num processo de transição, frequentemente marcado por fragilidades:
1 – Capitalização e financiamento climático
O apelo a novas fontes de financiamento climático e à participação do setor privado é claro. Para muitas empresas, sobretudo PME, isso significa não só risco, mas também oportunidade: risco por ainda dependerem de capital tradicional para investir em ações de descarbonização; oportunidade porque novos instrumentos (mercados de carbono, crédito para projetos verdes) podem abrir caminhos até agora pouco explorados.
2 – Planeamento estratégico e governance
A COP30 reforça a necessidade de integrar a sustentabilidade estratégica e governativa nas organizações. Como assinalado por analistas, empresas bem-sucedidas devem refletir compromissos climáticos na sua política de governance, nas práticas de remuneração executiva, nos comités internos e nas metas operacionais. Nem sempre isso acontece de forma robusta, o que pode comprometer a credibilidade dos relatórios ESG das empresas.
3 – Transição justa e social
Um ponto positivo da COP foi a valorização da transição justa — a alteração climática é inseparável da justiça social. Para o setor empresarial, isso implica requalificar trabalhadores, promover empregos verdes e garantir que as mudanças não penalizem comunidades vulneráveis. É um desafio de longo prazo, mas também uma oportunidade de reforçar a resiliência social e assegurar aceitação social das estratégias de transição.
4 – Natureza e cadeias de valor
A pressão crescente para que empresas incorporem a biodiversidade nas suas estratégias não é apenas ética, mas também estratégica. A valorização de cadeias de valor sustentáveis, com foco em soluções baseadas na natureza, pode representar uma vantagem competitiva para empresas que investem cedo nessas áreas. Contudo, isso implica repensar modelos de negócio, inovação e métricas de impacto.
5 – Logística circular
A COP trouxe para o debate temas como a economia circular, em especial a logística reversa, que pode ser fundamental para empresas que procurem reduzir desperdícios e materializar compromissos ESG de forma concreta. Implementar modelos circulares exige investimento, adaptação de cadeias de fornecimento e colaboração entre sectores, o que pode ser particularmente exigente para empresas com recursos limitados.
No contexto português, há fatores específicos que moldam a resposta empresarial a esses desafios. Vejamos:
O governo português, na COP30, realçou o foco na adaptação hídrica através da Estratégia “Água que Une”, reforçando o compromisso nacional com a resiliência climática. Existem consultoras e entidades locais, prontas a apoiar empresas na integração dos riscos climáticos nas decisões financeiras, na adaptação climática e no planeamento de biodiversidade. No entanto, muitas empresas ainda tratam a sustentabilidade como um tema aspiracional, não plenamente integrado nas suas estratégias centrais. Embora grande parte das empresas vejam a sustentabilidade como prioridade estratégica, a transformação real ainda precisa de uma tradução eficaz em ações concretas e mensuráveis.
Um apelo: transformar ambição em ação
À luz do que emergiu na COP30, o GRACE – Empresas Responsáveis defende que as empresas portuguesas devem reforçar o compromisso estratégico com ESG, transcendendo a retórica e atribuindo metas claras, vinculadas à governance, remuneração e relatórios de progresso. Devem apostar em financiamento verde, aproveitando as novas ferramentas de mercado climático para mobilizar capital para a transição — especialmente para iniciativas baseadas na natureza; e promover a transição justa, investindo nas pessoas, na requalificação e na proteção social, para tornar a descarbonização sustentável e aceitável socialmente.
É preciso, também, continuar a inovar nas cadeias de valor, incorporando economia circular e bioeconomia, transformando riscos ambientais em oportunidades de negócio e, claro, colaborar com o setor público e organizações da sociedade civil, no desenho e implementação de soluções conjuntas que permitam cumprir os compromissos climáticos sem comprometer a competitividade.
A COP30 foi, para o mundo empresarial, um ponto de viragem: por um lado, lançou novos compromissos de financiamento e justiça climática; por outro, falhou em definir um caminho firme para a eliminação de combustíveis fósseis. Para as empresas portuguesas, isso traduz-se num momento de bifurcação: manter-se no plano simbólico dos compromissos ou assumir a ambição com medidas concretas, integradas e transformadoras.
No GRACE, acreditamos que a transição ESG das nossas empresas não é uma escolha opcional, mas uma exigência ética, social e competitiva. A responsabilidade compete a todos: governos, setor privado e sociedade devem unir forças para que a economia portuguesa não fique à margem da nova economia verde que está a emergir. E mais: para que essa transição seja justa, sustentável e verdadeiramente regenerativa.
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