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Fileira do calçado precisa de 67 milhões de euros para descarbonizar

Setor pretende reduzir em 55% as emissões até 2030 e alcançar a neutralidade carbónica em 2050, através de quatro eixos estratégicos: eficiência energética, produção de energia renovável, mobilidade de baixo carbono e controlo das emissões de processo e fugitivas.

04 Nov 2025 - 11:42

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Foto: Freepik

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A fileira do calçado nacional estima ser necessário um investimento de 67 milhões de euros para reduzir em 55% as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030, face a 2005, e alcançar a neutralidade carbónica em 2050. A meta a alcançar vai basear-se em quatro eixos estratégicos, nomeadamente na eficiência energética dos processos, na produção de energia renovável, na mobilidade de baixo carbono e no controlo das emissões de processo e fugitivas.

Os dados constam do Roteiro para a Descarbonização da fileira do calçado apresentado pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP), nesta terça-feira, durante a Semana da Descarbonização do setor. O Roteiro faz-se acompanhar de uma Carta de Princípios e Selo de Descarbonização, que realçam o compromisso das empresas subscritoras para com estes objetivos.

Ao Jornal PT Green, Joana Soares, coordenadora do Roteiro de Descarbonizado no CTCP, refere que esta estimativa “foi estabelecida com base em diversos levantamentos, efetuados junto das empresas do setor, e considerando aquilo que se observa razoável vislumbrar como viável e exequível para as diversas fileiras”. Tendo isto em conta, sublinha, “apurou-se a necessidade de um investimento global na ordem dos 67 milhões de euros”.

Não referindo a fonte desse financiamento, nomeadamente a percentagem de capitais públicos e privados envolvidos, Rui Moreira, também coordenador do Roteiro de Descarbonizado no CTCP, acrescentou, no entanto que “as empresas da fileira têm vindo a utilizar os Programas de apoio existentes no âmbito do PRR e, mais recentemente, no Portugal 2030, principalmente, para implementação de ações para melhorar a eficiência energética dos seus processos e para instalação de Unidades de Produção para Autoconsumo – painéis solares fotovoltaicos”. E acrescenta que “neste momento está disponível um Registo Pedido de Auxílio 03/RPA/2025 aguardando-se a publicação do Aviso de Candidatura”.

Um guia para o setor

O Roteiro de Descarbonização da Fileira do Calçado tem como objetivos principais a caracterização do setor do ponto de vista das suas emissões de GEE (âmbito 1 + âmbito 2), o diagnóstico da situação, o desenvolvimento de um plano de ações para a descarbonização e a capacitação das empresas através de ações de formação, webinars, podcasts, vídeos disponibilizados.

O Roteiro foi desenvolvido ao longo de um ano, com base na recolha de informações e propostas de partes interessadas, como a APICCAPS – Associação Portuguesa da Indústria de Calçado, Componentes, Afins e Produtos Sucedâneos e empresas da fileira. Foram efetuadas visitas técnicas a empresas industriais de calçado, componentes e marroquinaria de forma a identificar no terreno a situação e recolhidas propostas a integrar no Roteiro. Para além disso, o CTCP foi responsável pelo desenvolvimento de uma iniciativa de monitorização de emissões de GEE (âmbito 1 + 2) nos anos de 2015 e 2022 que abrangeu 145 empresas da fileira e que permitiu recolher informação sobre a evolução do desempenho neste domínio.

Com base nesta informação, foi possível apurar que os principais desafios estão relacionados com os custos associados à descarbonização das indústrias (40%). Nomeadamente, investimentos associados a certas tipologias de medidas, como a instalação de UPAC e a conversão para frotas elétricas, refere Joana Soares.

As empresas também reportam dificuldades na identificação de soluções técnicas e economicamente viáveis que não comprometam a operação das mesmas. Esta dificuldade foi apontada por 34% dos inquiridos. Já 20% das empresas fizeram referência à dificuldade de atuação na redução das emissões de âmbito 3, especificamente no que respeita às emissões relacionadas com as entregas dos materiais (a maioria dos fornecedores do setor não são de Portugal), com a distribuição e entrega dos produtos e com a deslocação dos colaboradores. Por fim, 6% identificaram alguns desafios relacionados com a componente humana, referindo-se, por exemplo, a resistências à mudança, tanto por parte dos colaboradores como dos fornecedores.

A fileira do calçado está enquadrada pelo Plano Estratégico 2030 desenvolvido pela APICCAPS. Neste Plano, “os aspetos ambiental e social da sustentabilidade são considerados como pilares estratégicos da fileira do calçado e, como tal, continuarão a ser prioridades nos próximos 5 a 10 anos”, assinala Rui Moreira, que garante que as empresas da fileira estão focadas no desenvolvimento de ações para a redução de emissões de GEE em 55% em 2030 e o CTCP manterá a sua intervenção de suporte às empresas neste domínio. “Numa primeira fase, um dos aspetos relevantes é assegurar que as empresas têm à sua disposição uma ferramenta específica de calculo de emissões de GEE, ferramenta autónoma e sem custos, ferramenta desenvolvida no âmbito deste Roteiro. Ao nível das empresas a integração de tecnologias digitais e soluções de armazenamento de energia são as prioridades em termos de ação e investimento para um horizonte de 5 a 10 anos para além do cálculo e desenvolvimento de ações para redução de emissões de GEE de âmbito 3”, acrescenta o responsável.

Em 2045, como consequência da implementação das medidas de descarbonização identificadas, estima-se que as emissões específicas decresçam de 1.033 gCO2e/par (2005) para 104 gCO2e/par (-90%), estima o CTCP.

Cluster exporta para 173 mercados

Segundo a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), em 2024, o setor específico do calçado era composto por 1171 empresas (num total de 1577 de todo o cluster), empregava 22057 pessoas e exportou 1839 milhões de euros (num total de 2222 milhões de euros de todo o cluster).

Os produtos do cluster português do calçado podem ser encontrados em todo o mundo, nomeadamente em 152 dos 192 Estados-membros das Nações Unidas e em mais 21 outros territórios.

A Europa é o principal mercado para os produtos do cluster, com o mercado da Alemanha (23%) a receber a maior fatia das exportações de Portugal, seguido de França (19%) e Países Baixos (12%). No total, a União Europeia recebe quase 80% das exportações, impulsionada por uma forte procura de calçado de luxo e de alta qualidade.

 

 

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