Subscrever Newsletter - Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa na transição verde.

Subscrever Newsletter

Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa na transição verde.

Submeter

Ao subscrever aceito a Política de Privacidade

8 min leitura

Mundo à espera que lideres mundiais tomem decisões na COP30 para travar alterações climáticas

Entre relatórios que ditam emissões e aquecimento recordes, promessas de mais financiamento e mostras nacionais de aposta nas energias limpas, o mundo aguarda decisões concretas em mais uma Conferência do Clima das Nações Unidas, que arranca nesta segunda-feira. Espera-se que a COP30 seja, finalmente, a ‘COP da Implementação’. Será mesmo assim?

10 Nov 2025 - 07:20

8 min leitura

Foto: Antonio Scorza/COP30

Foto: Antonio Scorza/COP30

As semanas que antecedem as Conferências do Clima das Nações Unidas (COP) são ricas em relatórios que apresentam o status quo do planeta em termos de aquecimento global, emissões de gases com efeito de estufa (GEE), implementação das energias renováveis e outras tecnologias de baixo carbono, entre outros indicadores. São relatórios que ditam o tom da negociação da cúpula de líderes que todos os anos se junta para negociar o futuro do planeta.

Mas, afinal, em que ponto estamos em 2025? Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o aquecimento global volta a bater recordes, com o ano de 2025 a ser dos mais quentes de sempre: a temperatura média até agosto foi cerca de 1,42ºC acima dos níveis pré-industriais. Recorde-se que o Acordo de Paris estabelece como principal meta limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, procurando garantir que o aumento da temperatura média global se mantenha bem abaixo dos 2 °C até ao final do século.

É também nesta altura que é publicado o aguardado ‘Emissions Gap Report’, o relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) que mostra a evolução das emissões de GEE no mundo. E a nova edição é perentória: o mundo continua fora de rota para travar o aquecimento global. A temperatura média global deverá aumentar entre 2,3°C e 2,5°C até ao final do século. O documento diz que com as políticas atuais o aquecimento poderá chegar mesmo a 2,8°C, um cenário que agravaria fenómenos meteorológicos extremos, perda de biodiversidade e fortes impactos económicos.

Por outro lado, temos os esforços que estão a ser feitos para reduzir os combustíveis fósseis e virar a agulha para as energias renováveis. Pela primeira vez na história, no primeiro semestre de 2025, as energias renováveis geraram mais eletricidade do que o carvão, segundo um relatório da Ember. Além disso, o mundo prepara-se para mais um ano recorde na instalação de energias renováveis, em 2025, impulsionado sobretudo pela energia solar e pela China. Aliás, o seu líder, Xi Jinping, fez recentemente uma promessa histórica de redução das suas emissões climáticas. Contrariamente a Donald Tump, Xi Jinping não nega as alterações climáticas e promete reduzir as emissões da economia chinesa até 10% no prazo de 10 anos. Recorde-se que a China é o maior poluidor do mundo, mas também o maior produtor de tecnologia verde e pretende liderar esta economia. O vice-primeiro-ministro da China, Ding Xuexiang, apelou há dias ao fim das barreiras comerciais que travam a transição energética global, defendendo uma cooperação internacional mais estreita em matéria de tecnologia e indústria verde.

É com esta base que a COP 30 arranca nesta segunda-feira, em Belém do Pará, no Brasil, naquela que é esperada que seja a ‘COP da Implementação’.

O que esperar desta COP

Há vários dossiers críticos na COP 30. É esperado que, no coração da Amazónia, os países finalmente apresentem as suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em Inglês). São os planos climáticos nacionais que cada país apresenta à ONU e onde explicam como vão reduzir as suas emissões de GEE e adaptar-se aos impactos climáticos. São revistos a cada cinco anos e nesta edição, 10 anos depois do Acordo de Paris, espera-se ambição e ação para reverter o impacto das alterações climáticas. “Já não se trata apenas de uma conferência de debate, mas de execução e resultados tangíveis”, assinala Islene Façanha, analista de políticas do Clima-Energia da ZERO, salientando que “os países deverão apresentar as suas terceiras metas de redução de emissões, agora para 2035, refletindo um aumento da ambição global e nacional. Estas metas serão fundamentais para definir a trajetória de aumento de temperatura nas próximas décadas”.

Ao Jornal PT Green, a analista da ZERO, associação que está sempre presente com uma comitiva nas COP, explica que, além das NDC, a COP30 irá concentrar-se em mais alguns eixos principais. Outro será o financiamento climático, com a meta de mobilizar 1,3 biliões de dólares por ano, incluindo 300 mil milhões de fundos públicos. Segue-se o programa de ação da Presidência, que abordará mais de 30 temas e ligará os resultados do Global Stocktake a medidas concretas entre 2025 e 2030. Na adaptação e resiliência, destacam-se soluções para enfrentar os impactos climáticos já visíveis, nas áreas da água, saúde, cidades e resíduos. A transição justa visa acelerar a eliminação dos combustíveis fósseis, promovendo emprego sustentável e coesão social. Por fim, as soluções baseadas na natureza e a proteção das florestas, especialmente da Amazónia, incluem compromissos para atingir desflorestação zero até 2030 e reforçar o Fundo Tropical Florestas para Sempre (TFFF), com apoio público, privado e filantrópico.

E Portugal?

Em termos de NDC, Portugal está integrado no compromisso europeu. Na véspera da Conferência de Líderes da COP, que teve lugar no final da última semana, os ministros europeus do Ambiente chegaram finalmente a acordo sobre a meta climática para 2040: uma redução de 90% das emissões líquidas de gases com efeito de estufa face a 1990, rumo à neutralidade carbónica até 2050. No entanto, ficou decidido que 85% das reduções terão lugar a nível doméstico, enquanto até 5% poderão dar-se através de créditos de carbono no estrangeiro.

Islene Façanha reconhece o papel de liderança da União Europeia (UE) na ação climática nos últimos anos, definindo “metas ambiciosas e políticas pioneiras” para reduzir as emissões e promover a transição energética. No entanto, “o contexto político atual, marcado por tensões sociais, subida dos custos energéticos e avanços de forças políticas eurocéticas ou antiambientais, pode colocar em risco o nível de ambição europeia”, sublinha.

Recorda que alguns governos e setores económicos têm pressionado por adiamentos ou flexibilizações nas metas do Pacto Ecológico Europeu, alegando impactos económicos e sociais. “Se estas pressões resultarem em recuos políticos, a UE poderá perder o seu papel de liderança climática e comprometer a capacidade de atingir os objetivos de redução de 66–72% até 2030 e 90% até 2040. Neste sentido, a ambição climática europeia depende agora da capacidade de manter o consenso político e social em torno da transição verde, conciliando competitividade económica, justiça social e sustentabilidade ambiental”, defende.

Uma matéria que cabe a cada país, de forma isolada, mas também em coletivo com a UE. O Governo português, entre dossiers mais avançados e outros atrasados, mostra-se empenhado em contribuir para a redução das emissões de GEE e restauro da natureza. Luís Montenegro anunciou na Conferência de Líderes da COP, que teve lugar no final da semana passada, que o país vai investir €1 milhão no novo fundo global para proteger florestas tropicais. A ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, também já referiu que Portugal levará “uma posição construtiva e ambiciosa” à cimeira, com destaque para dois eixos: a meta intermédia de emissões para 2040 e a contabilização de investimentos internacionais em energias renováveis.

O Jornal PT Green questionou o Ministério do Ambiente e da Energia sobre que contributo Portugal poderá apresentar na Cimeira para acelerar a descarbonização do país e promover a recuperação da natureza, entre outros objetivos, mas até ao momento não obteve resposta. Contudo, com o fim da cimeira previsto para 21 de novembro, esperam-se mais anúncios sobre esta matéria. Em comunicado, a ministra do Ambiente referiu, entretanto, que  “Portugal quer ser um país construtor de pontes – também no clima”.

Para Islene Façanha, “Portugal tem uma oportunidade única de se afirmar na COP30 como ponte entre a União Europeia e o Brasil, tirando partido da sua relação histórica e da experiência em energias renováveis e financiamento climático inovador. No entanto, a credibilidade externa depende da coerência interna: sem medidas eficazes para reduzir as emissões em setores-chave, como o setor dos transportes, o país arrisca comprometer a sua imagem de liderança climática. É tempo de agir com ambição e dar o exemplo que o mundo espera”.

 

 

Subscrever Newsletter

Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa na transição verde.

Ao subscrever aceito a Política de Privacidade