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ONU exige que países ricos financiem descarbonização no Sul Global
Subsecretário-geral Jorge Moreira da Silva alerta na COP30 que o apoio atual, 103,8 mil milhões de euros, está muito abaixo dos 2,3 biliões anuais de que os países em desenvolvimento precisam para abandonar as fontes fósseis.
10 Nov 2025 - 12:24
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Jorge Moreira da Silva | LinkedIn
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Jorge Moreira da Silva | LinkedIn
O subsecretário-geral da ONU Jorge Moreira da Silva defendeu que os países desenvolvidos têm de financiar a transição energética no Sul Global, permitindo que as economias em desenvolvimento deixem de depender dos combustíveis fósseis sem comprometer o crescimento.
“Como é que vamos dizer a esses países para deixarem o petróleo no chão, o gás no chão, porque é bom para o planeta, se não os estamos a apoiar nessa descarbonização?”, questionou em declarações à Lusa Jorge Moreira da Silva, lançando outra questão: “Como é que se vai dizer a esses países que são pobres, estão endividados, que têm de avançar com investimentos na descarbonização, sem que os países mais ricos os apoiem?“
O diretor executivo do Gabinete das Nações Unidas para os Serviços (UNOPS), que se encontra na cidade amazónica brasileira para participar na 30.ª Conferência das Nações Unidas do Clima (COP30) que arranca hoje, deixou ainda críticas à distância entre as promessas e as necessidades reais dos países em desenvolvimento.
“Os países mais ricos atribuem aos países mais pobres cerca de 120 mil milhões de dólares [103,8 mil milhões de euros] por ano, quando aquilo que os países em desenvolvimento precisam são 2,7 biliões de dólares [2,3 biliões de euros]” por ano, afirmou.
De acordo com o responsável, os valores atuais estão muito aquém do necessário para apoiar a descarbonização e a adaptação às alterações climáticas, sobretudo nos países mais vulneráveis.
“Acordou-se em Baku [na COP29], que dos 120 mil milhões de dólares teríamos de ir para os 300 mil milhões de dólares [259,5 mil milhões de euros]”, por ano, mas que além desse esforço público ficou ainda estabelecida uma meta “de mobilização de capitais privados, para que o total atinja cerca de 1,3 biliões de dólares [1,12 biliões de euros]” por ano, explicou.
Ainda assim, somado o acordado entre financiamento público e privado esse montante continua a representar pouco mais de metade do que os países em desenvolvimento realmente precisam [2,7 biliões de dólares] para reduzir emissões, investir em energias limpas e proteger populações expostas a fenómenos extremos.
Para o responsável português, há “uma enorme injustiça nas alterações climáticas”, já que os países que menos emitem são “os mais afetados pela consequência da mudança climática”, como é o caso de Moçambique que é responsável por “0,1% das emissões globais” e tem sido fortemente afetado.
O tema do financiamento continua pendente desde a COP29 de Baku. Os países em desenvolvimento insistem em negociar em Belém como alcançar os 1,3 biliões de dólares anuais até 2035, necessários para cumprir os seus objetivos climáticos.
Às vésperas da COP30, o Brasil e o Azerbaijão, anfitrião da COP29, publicaram um plano para passar dos 300 mil milhões de dólares já comprometidos para os 1,3 biliões pretendidos.
Entre as propostas, figura-se a taxação da moda de luxo, a tecnologia e os produtos militares.
A acrescentar, o subsecretário-geral da ONU lembrou que “no ano passado, em 90% dos países, a nova capacidade renovável foi mais barata do que a mais barata da tecnologia fóssil”, sendo o argumento económico o investimento em combustíveis fosseis é cada vez menor.
Para Jorge Moreira da Silva, esta é também uma questão de interdependência global, já que de nada serve para o mundo os países desenvolvidos descarbonizados sem o mesmo acontecer nos países em desenvolvimento
“Eu desafio-os a ir às ruas de Lisboa, às ruas de Londres, às ruas de Washington, e perguntar às pessoas se elas têm noção, têm verdadeira noção, que por mais esforço que se faça na descarbonização nos nossos países, isso de pouco serve se não apoiarmos os países do Sul nessa descarbonização”, disse Jorge Moreira da Silva, comparando a situação à pandemia de covid-19.
“Com a covid-19 nós percebemos que se não vacinássemos o Sul nunca estaríamos seguros”, recordou, terminando: “Com as alterações climáticas é exatamente o mesmo”.
Representantes de cerca de 170 países participam a partir de hoje na COP30, sendo a primeira vez que a conferência climática se realiza na maior floresta tropical do planeta, um ecossistema vital para a regulação da temperatura global, mas também um dos mais ameaçados pela desflorestação e pela mineração ilegal.
As negociações prolongar-se-ão até ao dia 21, com possibilidade de se estenderem por mais alguns dias, em Belém, cuja preparação para esta COP30 foi marcada por graves problemas logísticos e pelos preços exorbitantes dos hotéis, que limitaram a estrutura das delegações presentes.
Agência Lusa
Editado por Jornal PT Green
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