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Tendência passada ou caminho do futuro?
O ESG não está a desaparecer, está a deixar de ser decorativo. Está a sair dos relatórios de sustentabilidade para entrar nas salas dos Conselhos de Administração. Por João de Almeida Simões, vice-presidente global de ESG e Sustentabilidade na iCapital
20 Out 2025 - 07:28
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João Simões, vice-presidente global de ESG e Sustentabilidade na iCapital | Foto: Jornal PTGreen/Rigby
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João Simões, vice-presidente global de ESG e Sustentabilidade na iCapital | Foto: Jornal PTGreen/Rigby
Durante anos, falar de ESG (Ambiente, Social e Governo) foi sinónimo de consciência e responsabilidade. As empresas adotaram políticas ambientais, compromissos sociais e códigos de conduta como parte da sua imagem pública. Mas o entusiasmo inicial começa agora a ser escrutinado, contestado e, em alguns casos, abandonado. O ESG tornou-se, para muitos, uma etiqueta demasiado ampla, ambígua e, por vezes, usada mais para parecer do que para fazer.
Talvez o verdadeiro ponto de viragem esteja precisamente aqui: o ESG não está a desaparecer, está a deixar de ser decorativo. Está a sair dos relatórios de sustentabilidade para entrar nas salas dos Conselhos de Administração. E é aí que começa a ter consequências práticas, exigindo decisões difíceis como cortes, investimentos e maior transparência.
Nos últimos meses, gigantes da banca como JPMorgan, Bank of America, Citi, Wells Fargo, Morgan Stanley e Goldman Sachs, seguidos por HSBC, UBS e Barclays, abandonaram a Net Zero Banking Alliance (NZBA), culminando recentemente no seu encerramento. Este êxodo não representa uma rejeição dos compromissos climáticos, mas sim uma reação à crescente pressão política, legal e acionista. A verdadeira medida da sustentabilidade está na capacidade de manter o rumo quando surgem tensões entre rentabilidade de curto prazo e exigências regulatórias.
Em contraste, a Europa mantém uma trajetória mais estável, impulsionada pelo Pacto Ecológico Europeu, lançado pela Comissão Europeia em 2019, com o objetivo de tornar o continente neutro em carbono, ou seja, alcançar um equilíbrio entre as emissões de gases com efeito de estufa e a capacidade do planeta para os absorver. Este pacto traduz-se em legislação concreta, metas ambientais obrigatórias e novas obrigações para as empresas simplificadas recentemente pelo pacote legislativo Omnibus. Apesar da ausência de consenso global, empresas que mantêm o compromisso ESG estarão mais preparadas para enfrentar os desafios futuros, ganhando resiliência, confiança dos investidores e alinhamento com expectativas sociais cada vez mais exigentes.
Ainda assim, a Europa enfrenta o seu próprio teste: transformar intenção em ação. Muitos setores resistem à mudança, os custos de adaptação são elevados e há desalinhamento entre países. Ao mesmo tempo, cresce a pressão política de movimentos contrários à transição. A ambição existe, mas o sucesso dependerá da capacidade de equilibrar ação climática, viabilidade económica e justiça social, três pilares que nem sempre caminham juntos.
Este desafio de coerência só será superado se as empresas estiverem totalmente envolvidas. Durante demasiado tempo, o ESG foi tratado como um apêndice estratégico delegado a uma equipa que escreve relatórios, gere métricas e responde a auditorias, enquanto o resto da organização apenas cumpre. Esse modelo serviu enquanto o ESG era periférico. Mas agora que os riscos ESG impactam resultados financeiros, talento, reputação e acesso a capital, tratá-lo como uma função marginal é, no mínimo, imprudente.
É hora de dar o salto de um ESG isolado para um ESG em rede. Quando confinado a uma área técnica, o seu impacto é linear; quando absorvido pela cultura organizacional, torna-se exponencial.
Algumas empresas já começaram essa transição, ainda longe da maturidade plena, mas com sinais evidentes: parte da remuneração variável da liderança está ligada a metas ambientais ou sociais; equipas de todas as áreas participam no cumprimento de objetivos comuns; e critérios ESG começam a influenciar decisões de compras, investimentos e gestão da cadeia de valor.
Importa lembrar que a maturidade ESG não se mede pela quantidade de políticas e iniciativas anunciadas, mas pela consistência entre o que se diz e o que se faz. Só quando o ESG for compreendido, vivido e aplicado em todos os níveis, desde o Conselho de Administração às equipas operacionais, será possível transformar compromisso em impacto real.
No fim, não se trata de salvar o mundo com relatórios. Trata-se de alinhar estratégia com futuro. Um futuro onde a sustentabilidade não é um adereço reputacional, mas um fator crítico de sucesso.
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