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E se a China, a segunda maior economia do mundo e o maior emissor de carbono, decidir liderar a transição energética global?
Se a China optar por assumir uma liderança inequívoca na transição energética, seja por motivos geopolíticos, industriais ou ambientais, o impacto será imediato: reduzirá custos globais, acelerará a adoção internacional e poderá inverter o ceticismo que cresceu após o recuo dos EUA na implementação do Acordo de Paris. Por Cristina Dias Neves, diretora do Jornal PT50 e publisher do Jornal PT Green
02 Dez 2025 - 13:58
4 min leitura
Cristina Dias Neves, diretora do Jornal PT50 e publisher do Jornal PT Green
- Energy Institute e Student Energy unem esforços para apoiar a próxima geração de líderes da energia
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Cristina Dias Neves, diretora do Jornal PT50 e publisher do Jornal PT Green
A resposta a esta pergunta pode redefinir a trajetória da transição verde e o próprio equilíbrio económico e geopolítico das próximas décadas.
Na semana passada realizámos a primeira conferência do Jornal PTGreen, em parceria com o Jornal PT50, dedicada ao tema das finanças verdes e ao impacto do novo enquadramento regulatório e geopolítico. Tal como sucedera na conferência sobre cibersegurança que organizamos no passado mês de outubro, o debate foi muito concorrido e marcado pela elevada qualidade dos oradores e pela relevância dos temas abordados
O tema, contudo, parecia-nos mais controverso. Ao contrário da cibersegurança — onde existe um consenso alargado quanto ao risco crescente que o setor enfrenta — nas finanças verdes permanece uma forte divisão entre profissionais e decisores. Persistem dúvidas sobre a materialidade dos riscos climáticos, como ficou patente nas discussões recentes no cenário internacional, bem como sobre o impacto que a transição verde terá na estrutura de financiamento das empresas e na dinâmica do mercado de capitais. A velocidade do processo, essa, é ainda mais controversa.
É verdade que os instrumentos financeiros alinhados com critérios ESG continuam a crescer e a bater recordes anuais. No entanto, o ceticismo mantém-se: os combustíveis fósseis continuam a representar mais de 80% do consumo energético global, e inverter esta tendência exige transformações profundas na produção, no consumo e no investimento.
Para não ir muito longe, casos como o da portuguesa EDP — que já ultrapassou os 15 mil milhões de euros emitidos em obrigações verdes e captou mais de três mil milhões no mercado de capitais — são encorajadores, mas não deixam de ser exceções num oceano global de emissões. Mesmo com o montante recorde de 465 mil milhões de dólares de dívida verde emitida até ao terceiro quadrimestre de 2025, esse valor representa apenas pouco mais de 4% do mercado global de dívida. Ainda assim, há sinais animadores: na Euronext, mais de 1.250 dos 4.000 ETFs cotados seguem índices ESG, revelando uma mudança estrutural no comportamento de uma parte significativa dos investidores.
A transição verde confronta-se ainda com uma questão fundamental: será possível responder ao crescimento exponencial da procura de eletricidade apenas com energias renováveis? A expansão da inteligência artificial, da computação avançada e da digitalização massiva aumenta a pressão sobre a oferta. Na Europa e nos Estados Unidos observa-se já um regresso de investimentos em fontes convencionais, sinal de que a oferta renovável ainda não acompanha, por si só, a nova procura.
É neste contexto que o papel da China se torna decisivo. Segundo dados divulgados recentemente pela The Economist, no final de 2024 o país já tinha instalado 887 gigawatts de capacidade solar — mais do dobro da soma da Europa e dos Estados Unidos — e possui condições para acrescentar anualmente um terawatt de energia renovável, a custos extremamente reduzidos. Esta capacidade equivale à produção de cerca de 300 centrais nucleares de grande dimensão.
Se a China optar por assumir uma liderança inequívoca na transição energética, seja por motivos geopolíticos, industriais ou ambientais, o impacto será imediato: reduzirá custos globais, acelerará a adoção internacional e poderá inverter o ceticismo que cresceu após o recuo dos EUA na implementação dos Acordos de Paris.
O Jornal PTGreen nasceu precisamente para acompanhar, com rigor e independência, novos desafios estruturais: a mitigação e adaptação climática, a gestão sustentável da água e dos recursos marinhos, a economia circular, a redução da poluição e a preservação da biodiversidade. Não encaramos estes temas como questões ideológicas, mas como requisitos fundamentais para a sustentabilidade económica, ambiental e para uma convivência harmoniosa entre ideias, empresas, empregos e futuro.
Acreditamos que a transição será inevitável — mais rápida ou mais lenta, com maior ou menor compromisso de EUA, China ou União Europeia. O sistema financeiro acabará, como sempre, por “seguir o dinheiro”, acompanhando os setores e geografias que melhor captarem as oportunidades. Do nosso lado, continuaremos a seguir esta discussão com atenção e sentido crítico.
Vale a pena acompanhar os vários artigos publicados no Jornal PTGreen e no Jornal PT50 sobre esta iniciativa.
- Energy Institute e Student Energy unem esforços para apoiar a próxima geração de líderes da energia
- UE reforça resiliência climática no setor vitivinícola com apoio até 80% para investimentos verdes
- Greenvolt instala central solar para a farmacêutica Sanofi na Irlanda
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