O Brasil quer mostrar que o futuro do transporte pode ser escrito com combustível limpo, e que já começou. Durante a COP30, em Belém, a Be8, uma das maiores produtoras brasileiras de biocombustíveis, e a Mercedes-Benz do Brasil apresentaram os resultados da Rota Sustentável COP30. A iniciativa envolveu uma travessia de mais de 4.000 quilómetros por estradas nacionais, feita com camiões Euro 6 movidos apenas a Be8 BeVant, o biocombustível renovável criado pela própria empresa.

Segundo o Instituto Mauá de Tecnologia, o BeVant reduziu as emissões de gases com efeito de estufa em até 99% em comparação com o combustível fóssil. No ciclo completo de produção e utilização, a redução chega aos 65%. E, nomeadamente, a fonte alternativa não exige modificações técnicas nem investimentos adicionais nos veículos.

Para Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8, estes resultados comprovam que a transição energética pode acontecer já, com tecnologias disponíveis e economicamente viáveis. O BeVant, explica, “demonstra que o Brasil tem capacidade para liderar a descarbonização global de forma sustentável, valorizando a sua matriz energética limpa e o agronegócio que produz as matérias-primas [no país]”.

Por parte da Mercedes-Benz, Luiz Carlos Moraes, vice-presidente de Relações Institucionais, fala em preparar o transporte para “um futuro neutro em carbono”, e reforça o papel da inovação e da eficiência como parte dessa transição.

Há, porém, uma nota de realismo trazida por Luiz Carlos Saraiva, responsável pelas Relações Governamentais da Be8: “O gasóleo verde (HVO) também pode substituir integralmente o gasóleo fóssil, mas ainda não é produzido no Brasil e tem um custo muito superior. O BeVant, pelo contrário, é produzido internamente, é acessível e está pronto para uso imediato”.

Na Zona Verde da COP30, um Actros Evolution movido a BeVant simboliza o progresso do Brasil rumo à mobilidade de baixo carbono, indica a nota à imprensa.

O Brasil, segundo maior produtor mundial de biocombustíveis, aposta agora numa narrativa de liderança que o próprio Presidente Lula da Silva reforçou em outubro, ao afirmar que o país deve liderar a transição energética pelo exemplo. É um gesto de afirmação nacional, mas também uma tentativa de reposicionar o Brasil no centro da conversa global sobre energia, economia e futuro.