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Orçamento verde: três provas de fogo

Num contexto global de conflitos armados, choques climáticos e volatilidade, Portugal não pode adiar decisões estruturais. Por João Dias da Silva, co-diretor do Executive Master em Sustainability Management na Porto Business School e associate partner da Crowe Portugal

10 Out 2025 - 19:20

4 min leitura

João Dias da Silva, co-diretor do Executive Master em Sustainability Management na Porto Business School e associate partner da Crowe Portugal

João Dias da Silva, co-diretor do Executive Master em Sustainability Management na Porto Business School e associate partner da Crowe Portugal

O Orçamento do Estado para 2026 reforça a aposta no ambiente e energia, com 2,5 mil milhões de euros (+4,9% face a 2025). Dois terços desta verba serão canalizados através do Fundo Ambiental, alimentado pelas receitas dos mercados europeus de carbono (ETS), e um terço virá do PRR, que continua a ser um dos principais motores do investimento verde em Portugal. O sinal político é claro e aproxima o país da média europeia, mas persistem fragilidades: dependência de receitas voláteis, forte ligação a fundos comunitários e riscos de execução que podem travar a concretização das políticas. Boas intenções não bastam sem resultados concretos.

Transição energética
Portugal mantém-se entre os líderes europeus na eletricidade renovável, com mais de 70% da produção a originar desta fonte, em 2024, e quer acelerar com novos leilões de eólica offshore, reforço das redes e programas de eficiência. O apagão de 28 de abril mostrou, contudo, que não bastam megawatts: é preciso garantir resiliência em toda a infraestrutura energética. O Governo promete lançar em 2026 uma Estratégia Nacional de Armazenamento de Energia, reforçar a rede elétrica e melhorar as interligações com Espanha e a Europa, reduzindo a dependência externa e permitindo integrar mais energias renováveis no sistema.
A prioridade deve passar por reorientar prioridades dentro do que ainda está por executar e, sobretudo, assegurar que futuros financiamentos privilegiam a infraestrutura crítica, criando um sistema mais estável, resiliente e competitivo.

Mobilidade sustentável
Apesar de medidas positivas, como o Incentiva+TP, os passes gratuitos para jovens e as reduções para idosos, o país continua sem uma estratégia coerente e integrada. Muitas soluções surgem ao nível local, isoladas e sem escala, e a política tem-se centrado em incentivar a procura, faltando um plano estrutural que reorganize a oferta e melhore a eficiência do sistema. O contraste com a Alemanha, onde o passe nacional Deutschlandticket (58 €/mês) simplificou o acesso e levou milhões a trocar o carro pelo transporte público, é evidente.

Sem gastar mais, é crucial coordenar os investimentos existentes num plano nacional, com metas claras, tarifários integrados e financiamento orientado para resultados, nomeadamente mais passageiros transportados e menos emissões. Esta transformação deve envolver também os players privados de mobilidade, cuja participação pode acelerar a modernização e digitalização dos serviços, tornando a oferta mais eficiente, flexível e centrada no utilizador.

Conservação da Natureza
A verba do ICNF encolhe quando mais precisamos de prevenir incêndios e restaurar ecossistemas. E todos os anos repetimos o mesmo ritual: anunciar a “época de incêndios” como se fosse a abertura da temporada balnear, quando na verdade é um desastre previsível que destrói vidas e riqueza. A tecnologia para previsão e gestão florestal existe e está ao alcance. Proteger florestas, rios, mares e biodiversidade não é despesa: é investimento em água, turismo, produção agroalimentar e exportações.

É essencial reorientar recursos para prevenção estrutural, gestão florestal profissional e restauro de ecossistemas, valorizando os serviços naturais como ativo estratégico.

Do verde da capa ao verde na prática
Apesar de não ter maioria absoluta, o Governo pode beneficiar de um parlamento que, para já, não parece querer eleições antecipadas. Há tempo para concretizar políticas, e essa janela deve ser aproveitada. Num contexto global de conflitos armados, choques climáticos e volatilidade, Portugal não pode adiar decisões estruturais. É tempo de transformar promessas em resultados e provar que o verde do orçamento não é apenas a cor da capa, mas um compromisso real com o futuro do país.

 

 

 

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